segunda-feira, 9 de setembro de 2013

HARLEY CAMPOS



A morte de um alguém muito querido,
nos põe frente a frente a nossa própria morte,
dentro dos compartimentos de uma pedra,
nas voltagens percorridas por todos
dentro do raio, no útero do abismo impensável,
nas clareiras da grande floresta negra e dourada
Temos e não temos todos os olhos,
nossas antenas captam algo frio quente
com resposta e sem resposta,
tocamos onde o mais abissal nunca toca,
nas labaredas das lágrimas,
nas fibras que ligam
e desmembram ossos
Sem ar, com ar, submerso pela terra,
pela água, pelo material sedimentado
dos sonos e dos sonhos
Não morrer, sempre morrer,
sem deitar os pilares do pensamento
que ora edifica e desmorona,
perdendo contato com a lógica,
com as montagens
que o sentimento tece,
ou simplesmente,
que se ignore tudo que até então disse

A morte de alguém muito querido,
nos faz reler os velhos almanaques
guardados no inconsciente ancestral;
bem vivos, página por página,
fotografia por fotografia,
peito por peito, pênis por pênis...
Arte medieval dos escorpiões, das borboletas,
dos escaravelhos, dos artefatos nus
movidos por tudo que vimos e não vimos,
por tudo que nunca veremos ( ou veremos )
na avalanche dos muitos verões

Se parte o elo de prata entre o corpo e o não corpo
para se entrar na garganta da serpente motora
da existência e da não existência citada por todos os Naguáis?
Pouco ou nada posso dizer,
mesmo tendo todas as respostas e nenhuma resposta

Sou menor do que o vento, maior do que o vento,
nada e tudo pisando sobre meus próprios pés,
sobre teus pés; piso no pisar,
nas ligas da perdição e do reencontro,
nos bordados feitos pela noite e pelo dia
dos que fecham e abrem os olhos

( edu planchêz )


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